Às vezes, quando minha mente está a milhão
Eu saio para caminhar
Eu pego esse elevador velho, desse prédio triste de janelas maravilhosas
e olho para o mundo, para me esvaziar
As ruas, janelas, os carros, cada árvores e cada arte de rua
Cada homem, mulher e face perdida e apressadas
Todas elas, partículas em panoramas dançando sem direção.
Meus amores na praça Alexandre- sintomática da desilusão
Minhas confissões nos botecos sujos da Paulista
Minhas danças embriagadas na Augusta
caminhos que criaram histórias de ausências, presenças e sentenças
E em cada rosto e viela
eu me perco e me acho e desacelero!
Caminhando na minha própria tristeza e presença
Todas as ruas me levam sempre para o mesmo lugar
Elas me habitam da certeza que a cada passo,
meu eu caminha em direção a esse desejo
que não pode ser nomeado ou realizado.
Pra essa maldição de sempre querer o que é proibido
De sempre querer viver o que não deve ser vivido.
E de amar cada um dos meus pecados e das minhas trangressões.
Pela vida, acelerada e destemida.
Agora, mesmo que triste e desacelerada,
eu volto pra casa
E só então percebo
a quem eu pertenço.
-
Às vezes, quando minha mente está a milhão
Eu saio pelas trilhas
e corro até que eu não possa ouvir mais nada
além da minha própria atenção.
Entre as árvores e o vento
no meio do nada, entre tudo,
eu corro em direção à besta,
e quando a encontro - e eu sempre a encontro
ela me desafia,
ela me olha
e eu vejo, no fundo daqueles olhos violentos, meu inimigo
grandioso, nu, habitando a minha própria sombra
àquela besta que só encontro quando me permito só
gigantesco, ousado e solitário.
E eu me encontro comigo, e me fodo e me amo
e me sinto vivo de novo
e eu continuo, me arranho e me esfolo até me curar
até sentir que eu posso morrer e por isso, posso viver.
E quando eu estou prestes a me render,
quando o céu está prestes a desabar
eu me deparo com outro Deus,
que rasga os céus
e me desafia ainda mais
e me empurra em direção ao abismo e a escuridão
e me ilumina com sua fúria expressa em trovões.
E eu descubro que Nascer é uma alegria que doí,
ali, sozinho com as forças da natureza
depois de lutar nessa selvagem-selva,
com essa besta prodigiosa
eu percebo que cada trilha é uma ida sem volta
E na medida que me aproximo da cidade de volta
e as luzes voltam a aparecer, eu me perco
eu volto pra casa
E só então percebo
a quem eu pertenço.
E a escolha que tenho.
De retornar enquanto há tempo
ou de me molhar enquanto eu vivo
com aqueles que melhor morrem.
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