O dilema da competição vs cooperação, reconversão industrial, design centrado no humano, as ações do Alibaba, Meituan, NVIDIA, Pinterest, Uber, iFood e 99 e o linchamento digital do Madero, Havan e Giraffas.
O dilema do evolucionísmo: competição, cooperação e insights econômicos
Você provavelmente já ouviu sobre as aventuras de Charles Darwin pelas Ilhas Galápagos. Intrigado com as variações biológicas entre as espécies, o cientista deduziu que a evolução é resultado de um processo competição perpétua entre pela alimentação, reprodução e sobrevivência.
A teoria da evolução de Darwin têm correspondentes na política, filosofia e economia. Adam Smith, David Hume e Thomas Malthus — que é inclusive citado por Darwin em Origem das Espécies,- aplicam os mesmos princípios da guerra biológica aos seus campos de pesquisa.
Uma teoria alternativa à evolução enquanto competição é a ideia da colaboração entre espécies. A bióloga Lynn Margulis, uma dos grandes nomes dessa corrente, descobriu que as mitocôndrias e cloroplastos eram organismos independentes que colaboraram em um processo que resultou nas para células eucarióticas (e em toda a vida complexa na Terra).
Da mesma forma, as árvores estão em relação simbiótica com os fungos. Assim como estão em relação umas com as outras. E a ideia de que você é um “indivíduo” talvez não te faça pensar nisso, mas você é um ecossistema composto por muitas espécies espécies microbianas. Quando eu penso no atual contexto político, o dilema da evolução enquanto cooperação ou competição sempre me vem à mente. O que fará com determinadas empresas sobrevivam e outras morram nessa crise? Quais as estratégias que as empresárias estão adotando para sobreviver? A resiliência tende à competição predatória ou a colaboração? Uma forma de pensar nessa questão é analisando as ações que as empresas estão tomando.
Estudos de Caso: as estratégias de empresas inovadoras contra a pandemia
1. Pinterest: Stay safe. Stay inspired e o How We Fell O Pinterest lançou o “Stay safe. Stay inspired ” uma seção para atender as necessidades dos usuários em quarentena. O guia fornece inspiração de categorias populares como autocuidado, trabalho em casa, atividades para crianças, dicas da World Health Organization e mais. Mas isso é a novidade “menor”.
O CEO do Pinterest, Ben Silbermann fez uma parceria com Dr. Freng Zhang, um pioneiro em edição de genes do CRISPR e cientistas de Harvard, Howard Hughes Medical Institute, MIT, Feeding America para desenvolver o aplicativo “How We Fell”. A ideia do aplicativo é ser uma ponte entre cidadãos e cientistas, alavancando o auto-relato de sintomas e aumentando a capacidade de prever e planejar ações contra a COVID-19. “We don’t need to know who you are” — FAQ HOW WE FEEL Um destaque interessante. Dentro da equipe de desenvolvimento, há profissionais como Gary King, um especialista em “differential privacy”, uma técnica de inferência estatística que projete a identidade dos indivíduos. Por isso, diferente de outros aplicativos, como o Corona 100m, o How We Feel não solicita nenhuma informação pessoal.
2. Meituan Dianping: o gigante asiáticos e os “escudos” para alimentos Talvez você não conheça a Meituan, mas deveria. A gigante chinesa apoiada pela Tencent, é especializada em reservas e entrega de diferentes produtos e serviços e movimentou só em 2018, mais US$ 33 bilhões. Em 2019, ela ganhou o primeiro lugar no ranking de companhia mais inovadora do mundo da Fast Company. Para diminuir a infecção em ambientes de alimentação, como cantinas de hospitais, a Meituan desenvolveu um “escudo dobrável” para refeições. A ideia é impedir que uma refeição possa ser contaminada por gotículas presentes na superfície do ambiente. Os clientes em Xangai e Pequim em oito redes de restaurante estão recebendo gratuitamente o escudo com seus pedidos.
3. Alibaba: um ecossistema resgatando os seus O Alibaba adotou 20 medidas de combate aos efeitos da Covid-19 que de empréstimos à ferramentas de aceleração da digitalização. A empresa anunciou 2,86 bilhões de dólares em empréstimos com juros baixos e sem juros à empresas chinesas registrados no Taobao e Tmall. Outra medida que merece destaque é a realocação flexível de mão de obra. O supermercado da Alibaba, Freshippo, criou um esquema de compartilhamento de funcionários. Com essa alocação temporária, os setores com maiores demanda dentro das redes do Alibaba, como os serviços de entrega, absorver a mão de obra ociosa de outros setores.
O Alibaba também disponibilizou gratuitamente uma série de recursos para aumentar a digitalização das empresas que utilizam seus serviços. As ferramentas incluem os serviços Taobao Livestream, cursos on-line da Universidade Taobao e soluções digitais da Cainiao.
4. NVIDIA: Folding@home, computação distribuída e o apelo aos consumidores A NVIDIA pediu aos seus usuários que baixem o aplicativo folding@home (FAH ou F@h) para apoiar a pesquisa científica sobre o coronavírus. O F@H é um projeto de computação distribuída que utiliza processamento ociosos das GPUs de voluntários para simulações científicas biomédicas.
Diferente dos outros cases analisados aqui, essa iniciativa apela ao engajamento por parte dos consumidores e não das empresas em torno de uma causa. A pró-atividade dos voluntários é incentivada através de um sistema da gamificação das contribuições. Os voluntários podem criar times de processamento e tangibilizar sua contribuição. Empresas de Aplicativos: Uber, Ifood e 99 A relação entre trabalhadores de aplicativos e as empresas tem gerado disputas judiciais pelo mundo todo. E apesar de algumas decisões pontuais, não há legislação específica dessa relação trabalhista e a jurisprudência marjoritária não reconhece o vínculo empregatício entre colaboradores e plataformas.
Com o coronavírus, essa relação se tornou ainda mais complexa. Trabalhadores de aplicativos como uber, 99 e ifood estão se arriscando todos os dias para prover comodidade aqueles que podem permanecer em casa. Mesmo com a falta de obrigações jurídicas, as empresas de aplicativos estão fazendo algo para proteger seus colaboradores?
5. O Uber anunciou 5 medidas de combate a covid-19. Entre elas, está a assistência financeira durante até 14 dias para motoristas e entregadores que tiverem suas contas suspensas por conta do diagnóstico com a COVID‑19. O pagamento é calculado com base na média de ganhos dos motoristas nos últimos seis meses de atuação. A companhia também fez uma parceria com Vale Saúde Sempre para prover descontos em exames laboratoriais, consultas médicas e medicamentos.
6. O IFood anunciou um fundo de R$ 2 milhão para dar suporte aos entregadores que pertencem ao grupo de riscos ou que precisarem ficar em quarentena durante a crise. Entregadores com mais de 65 anos receberam durante 30 dias um valor baseado na média dos seus repasses nos últimos 30 dias. E os entregadores de quarentena receberam por 14 dias um repasse baseado nas mesmas regras. A empresa também mudou sua política de divisão de lucros e está destinando R$50 milhões de sua receita para pequenos estabelecimentos locais, além de adiantar o pagamento dos estabelecimentos.
7. O 99 recebeu da Didi Chuxing, US$ 10 milhões para ajudar motoristas e entregadores contaminados pelo coronavírus. A empresa tambẽm doou R$ 4 milhões em corridas para os governos do Brasil e começou um projeto piloto no aeroporto de Guarulhos, de desinfecção gratuita dos veículos utilizados nas corridas da 99. A companhia fechou uma parceria com a Movida para oferecer descontos no aluguel e renovação dos carros.
08. Reconversão Industrial Reconversão industrial é o processo em que a capacidade industrial adquire rapidamente novos objetivos de produção. Na epidemia do coronavírus, a reconversão busca redirecionar as capacidades industriais — em grande parte ociosas- para produção de máscaras, equipamentos médicos e produtos de alta demanda no combate a covid-19.
Em um contexto em que países incapazes de satisfazer suas próprias demandas, encaram a guerra das máscaras, pagando três ou quatro vezes mais pelos pedidos de outras nações, a reconversão empresarial tem sido uma grande aliada.
Cases
BYD, fabricante de baterias e montadoras chinesas, se tornou a maior produtora de máscaras do mundo, após uma rápida rápida reconversão industrial. A empresa planeja produzir 5 milhões de máscaras e 300 mil garrafas de desinfetantes por dia.
LVMH, dona das marcas Moët & Chandon, Tiffany & Co. e Louis Vuitton fez a reconversão de suas fábricas de fragrâncias para produzir álcool gel e doar para o sistema de saúde da França.
Ambev realizou a reconversão de suas cervejarias para produzir 500.000 unidades de álcool gel e distribuí-las em hospitais públicos nas áreas mais afetadas das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. A empresa tem várias outras iniciativas, entre elas, uma parceria com a Prefeitura de São Paulo, a Gerdau e o Hospital Albert Einstein para ampliar os leitos Hospital do M’boi Mirim.
O presidente dos EUA, Donald Trump, utilizou a lei de “emergência nacional” para obrigar montadoras a se dedicarem à fabricação dos equipamentos necessários para o combate à epidemia da Covid-19.
Linchamento Digital: Madero, Havan, Giraffas
O foco desse texto é as ações inovadoras que buscam mitigar o impacto da covid-19. Mas é impossível não citar a estratégia das empresas que foram contra as medidas de isolamento e acabaram sendo canceladas pelos consumidores.
Junior Durski, da rede Madero disse em suas redes sociais que é completamente contra o isolamento e que Brasil não pode parar por conta de “5.000 pessoas ou 7.000 pessoas que vão morrer”. Na última quarta-feira, o empresário demitiu mais de 600 funcionários. Alexandre Guerra, sócio dos restaurantes Giraffas, entrou pro clube e ironizou o trabalho daqueles que fazem home office, completando que as pessoas deveriam ter medo de perder o emprego e não se pegar o vírus.
Luciano Hang, das lojas Havan defendeu a redução de salários e a suspensão de pagamentos de encargos sociais. O quarteto fantástico terminou sua composição com Roberto Justus defendendo que o número de morte é muito pequeno comparado aos danos à economia e que as medidas de isolamento teriam consequências muito piores.
Conclusão: design centrado na vida e a economia ética
A pandemia da Covid-19 está testando a resiliência e a capacidade de adaptação até das empresas mais equipadas e inovadoras do mundo. Em tempos de crises, os hábitos dos consumidores se flexíbilizam e eles tornam-se mais receptivos a tentar novas coisas. As empresas precisam se adaptar rapidamente, desenvolvendo design centrados na vida para acompanhar essa mudança. Ao mesmo tempo, elas precisam reduzir seus custos e sobreviver a queda de suas demanda.
A responsabilidade social das marcas é provavelmente a tendência que mais se acentuou nos últimos meses. Os consumidores esperam compaixão e altruísmo. As marcas que estão assumindo liderança na humanização de seus processos, centrando suas soluções no bem estar do ser humano, estão sendo notadas. Assim como as marcas “egoístas” estão passando por verdades processos de linchamento digital.
É difícil exagerar a importância dessa mudança e a centralizada do design de uma economia ética. Estamos acompanhando a busca crescente por modelos de negócio inovadores e sustentáveis. A Covid-19 mostrou inúmeras facetas dessa sustentabilidade. Ao mesmo tempo que os consumidores exigem estratégias inovadoras das empresas, as empresas também podem ajudar os consumidores a criar novos hábitos.
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