O Ministério da Justiça está expandindo na surdina sua nova arma de vigilância móvel: o seu veículo, caro leitor. O Córtex (cujo link não te ajudará em nada), é a inteligência artificial da Secretaria de Operações Integradas da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SEOPI).
O sistema Córtex usa os 6 mil olhos do Big Brother espalhados pela cidade e cruza esses dados com outras bases para criar um panóptico geral da vida pública. Assim, o sistema consegue saber por onde cada carro passou e quem aquele motorista esteve, tudo com imagens.
O Córtex utiliza os dados dos sensores da cidade e potencializa a vigilância através do rastro digital do motorista: CPF, Carteira de Trabalho e Base Nacional Integrada de Boletins de Ocorrência. Mas, como um bom Córtex, ele talvez seja ainda mais sofisticado do que gostariam que pensássemos.
O sistema também pode estar utilizando informações como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), a base de dados responsável por agregar informações de empresas. Capaz de prover assim, informações sobre a residência, telefone e outros dados sensíveis de cada motorista. Os resultados desse cruzamento estaria sendo disponibilizado para cerca de 10 mil agentes do Estado, de diferentes órgãos federais, estaduais e municipais.
A informação, do uso da RAIS pelo Córtex e da amplitude da disponibilização dessas informações, foi adquirida através de um vídeo conseguido pelo Intercep Brasil, por uma fonte anônima. O Ministério da Justiça, entretanto, nega o uso da RAIS pelo Córtex.
O Córtex é mais uma das ferramentas de vigilância e fiscalização automatizada, desenvolvida por Estados que buscam monitorar os indivíduos pelo bem da ''segurança pública''- aquela querida entidade que representa todo mundo menos você. As ferramentas de vigilância fazem parte de um mundo em que a exposição se constitui enquanto um valor cultural. Hoje, é preciso ser visto para que se tenha valor.
Vivemos em uma Era em que todo sujeito é também seu próprio objeto de propaganda, e assim, o olhar do observador alcança todos os lugares, já que é o próprio sujeito, o responsável pelo seu monitoramento. Os habitantes do digital, imaginando estar em total liberdade, colaboram com os vigilantes, através do prazer quase sexual do exibicionismo e da ex-posição (pôr-se à mostra).
Nessa sociedade, o Córtex se torna mais um brinquedo erótico que aumenta a eficiência da vigilância da sociedade que acredita que o auge da liberdade coincide com auge da super exposição.
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