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Comunidade Mínima Viável (MVC): guia para construir comunidades na web3


Parte da magia da Web3 é a capacidade de tornar as comunidades sociais dos projetos, compartilhando com elas, responsabilidades e recompensas. Mas como construir uma comunidade? Há meia década atrás, eu iniciei em cripto gerindo uma das maiores comunidades brasileiras, um grupo do Facebook com 60 mil usuários. As comunidades abriram as portas pra mim e eu nunca mais as larguei. Desse momento em diante, eu fundei, ajudei a gerir e a sustentar dezenas de outras comunidades. Neste guia, compartilho aprendizados, reflexões, estratégias e conselhos sobre criar, engajar e sustentar uma comunidade na web3.


Sucuk und Bratwurst



Índice:

Conceito > Contexto > Benefícios > Criação > Riscos & Desafios 

1.O que é uma Comunidade Mínima Viável (CMV) ?

1.1 ​​O Produto Mínimo Viável (MVP) e a Via Negativa

1.2 As Perguntas Corretas

2. A Economia da Atenção: a informação não é escassa, mas a atenção sim

3. Re-orientando o design para repartir benefícios

4. Os 7 Benefícios do design orientado à comunidades

5. Os Elementos chaves para criar uma comunidade

1. Construção

1.1 Ethos: missão compartilhada

1.2 Histórias

1.3 Personas & Líderes

1.4 Exclusividade & Pertencimento

1.5 Manifestos, Rituais & Tradições

2. Engajamento

2.1 Canais de Interação

2.2 Regras & Limites

2.3 Títulos, Times & as Unidades de Pertencimento

2.4 Incentivos & Recompensas

3. Sustentabilidade 🌱

3.1 Top Contribuintes & Moderação

3.2 Alianças, Organizações e Parcerias

3.3 Governança

3.4 Desafios

6. To-do List para iniciar sua Comunidade Mínima Viável

7. Os Riscos, Desafios & Conselhos

1. Centralização

2. Regras & Hierarquias

3. Competição

4. Confiança

5. Patrocinio

6. Efeito Manada

8. Conclusão



المنتج = المجتمع

1.O que é uma Comunidade Mínima Viável?

👨‍💻 🤝👩‍💻

MVC Is going to be the new standard. The core reading is because attention is the coin. The thing that will drive all the success for the next wave of web3 will start with community. This is a big fucking deal.

- Alexis Ohanian- Co-fundador do Reddit


Ninguém queria falar conosco. Quando atingimos 10k no Discord, algumas portas se abriram. Quando atingimos 50k, todos vieram nos procurar. E então, batemos o recorde

da launchpad mais requisitada de todas. -Caio Jahara, CEO da R2U.


Comunidade Mínima Viável (MVC) é um termo que tem ganhado cada vez mais atenção no setor das criptomoedas e dos metaversos. As comunidades deixaram de ser parte do domínio de grupos de caridade e amigos de escola, para se tornar um dos principais assuntos da comunidade cripto, desenvolvedores, startups, VCs e praticamente qualquer pessoa que esteja construindo produtos na web3.


1.1 O Produto Mínimo Viável (MVP) e a Via Negativa 👷‍♂️

MVC é um trocadilho com o conceito mais do que conhecido do mundo das startups, o Produto Mínimo Viável (MVP). Tradicionalmente, MVP significa que você deve pensar no produto mínimo viável para validar seu produto no mercado, testar seu market fit. O MVP serve para que você não passe anos construindo um produto que ninguém dá a mínima.


Quando eu penso nesse conceito, sempre me vem à cabeça o conceito de ''conhecimento pela Via Negativa'', descrito por Taleb:


''O princípio central da epistemologia que defendo é o seguinte: nós conhecemos muito mais o que está errado do que o que está certo, ou, formulando de acordo com a classificação frágil/robusto, o conhecimento negativo (o que é errado, o que não funciona) é mais robusto a erros do que o conhecimento positivo (o que é certo, o que funciona). Assim, o conhecimento cresce por subtração, muito mais do que pelo acréscimo — considerando-se que o que conhecemos hoje pode vir a se mostrar errado, mas o que sabemos ser errado não pode se revelar certo, pelo menos não com tanta facilidade.''


Ou, considere a versão moderna, em uma frase de Steve Jobs: “As pessoas acham que foco significa dizer sim àquilo em que se precisa focar. Mas isso não tem nada a ver com foco. Foco significa dizer não às centenas de outras boas ideias que existem. É preciso selecionar cuidadosamente. Na verdade, estou tão orgulhoso das coisas que ainda não fiz quanto das coisas que já fiz. Inovação é dizer não a mil coisas.”


Usando as palavras de Taleb ou Jobs, o MVP é o processo de aprendizado pelo erro, de construção de produtos pela experimentação e in-validação de hipóteses. Nesse modelo, um fundador ou time inicial busca testar uma hipótese de mercado em um produto final minimamente viável. Quando esse produto está pronto, ele vai ao mercado testar se ele faz sentido. Nesse processo, comumente, as startups pivotam. Voltam ao gabinete, refazem o MVP e voltam ao mercado. Se tudo der certo, a operação inicia, a jornada do cliente começa a ser estruturada, as vendas se iniciam, a atração começa.


1.2 As Perguntas Corretas 🤓


No modelo da Comunidade Mínima Viável, os muros são quebrados e o momento do teste no mercado, de validação de hipóteses e de exposição das hipóteses/produtos no mercado não acontece em momentos específicos, mas desde o dia zero.


Nesse novo paradigma, a construção que ocorre junto à sua comunidade é muito menos frágil devido à exposição diária ao teste e feedback da comunidade. Uma forma interessante de entender o novo paradigma de produtos dirigidos por comunidades mínimas viáveis é trocando a palavra comunidade pela palavra [input]:


Qual é o mínimo input necessário para criação do seu produto?


O que uma comunidade faz é fornecer feedbacks, insights e críticas. E talvez, mais importante do que tudo, a sua comunidade vai te fornecer as perguntas corretas, te mostrar coisas que talvez você e sua equipe nunca veriam sozinhos. Muitas vezes, ao desenvolver soluções sem feedbacks, perdemos tempo demais focando nas respostas corretas de perguntas erradas. Se não existe uma comunidade capaz de se formar em torno da sua ideia, dificilmente você desenvolverá um bom MVP. Se tem alguém que sabe sobre o que é melhor para o seu produto e tem os incentivos corretos para melhorá-lo, é sua comunidade.






الاهتمام = العملة

👀 A Economia da Atenção 👀

a informação não é escassa, mas a atenção sim


O termo economia da atenção (attention economy) foi criado por Laureate Herbert A. Simon, ganhador do Nobel de Economia de 1978, em 1971. Segundo Simon:


''Em um mundo rico em informações, a riqueza de informações significa a escassez de outra coisa: a escassez do que quer que seja que a informação consuma. O que a informação consome é bastante óbvio: consome a atenção de seus destinatários. Portanto, a riqueza de informações cria uma pobreza de atenção e uma necessidade de alocar essa atenção de forma eficiente entre a superabundância de fontes de informação que podem consumi-la. (Simon 1971, pp. 40–41).


AIDA:

Atenção > Intenção > Desejo > Ação

Na era dos metaversos e da web3, o ativo mais importante do mundo é a atenção dos usuários. Por isso, Apple, Alphabet/Google, Meta (Facebook), Nvidia e Tencent estão entre os 15 maiores assets/empresas em valuation do mundo. E o valuation da Alphabet é igual ao PIB do Brasil e da Rússia, mas ele é literalmente uma plataforma que captura a riqueza de informação e capitaliza em cima da pobreza de atenção e de sua organização SEOptimizada. No terceiro quarter de 2021, o Google teve uma receita de $65 bilhões, dos quais $53 B vieram da venda de anúncios. Se deixássemos o Google e o Facebook apenas com seus produtos, eles seriam nada mais do que páginas em branco construídas para serem completamente viciantes.



A era da economia da atenção também coincide com o colapso das organizações civis e das relações interpessoais. Nosso estoque de capital social anda em baixa. Em uma pesquisa com 500.000 pessoas, o pesquisador Robert D. Putnam mostra que pertencemos a menos organizações, conhecemos menos nossos vizinhos, nos encontramos com amigos com menos frequência, socializamos com nossas famílias com menos frequência e até jogando boliche sozinhos.


Mas os humanos são fundamentalmente sociais e as tecnologias (ainda) são agnósticas. Enquanto grande parte das relações pessoais tradicionais passam por erosão, há milhares de outras comunidades sendo formadas por novos tipos de afinidade. E sendo impossível prever as consequência de novas tecnologias, podemos redesenhá-las de forma a potencializar e repartir seus benefícios.





إرشاد

Re-orientando o design para repartir benefícios


Se tiver desorientado vai ser cego em tiroteio. Então se oriente!

Tem que olhar pra si mesmo nem todo mundo aguenta

Qual foi? tá achando que é ratão?

Acho que tu precisa de uma orientação


No modelo tradicional de receita-despesa, grandes empresas criam produtos, vendem a atenção das comunidades, lucram sozinho com o trabalho e esforço de seus usuários e aumentam o TDA geral da população, Nesse modelo, há um sistema robusto de incentivos para tornar os usuários viciados. E não sejamos idealistas, incentivos (econômicos, cognitivos ou hormonais) dirigem tudo (sim, a caridade envolve recompensas hormonais).


A popularização das criptomoedas, DAOs e play-to-earns está intrinsecamente relacionado ao aumento da importância de comunidade mínima viável. O Bitcoin chegou a casa do trilhão porque ele tem uma comunidade absurdamente forte que acredita no ativo. E mais do que isso, a atualização de seu protocolo está intrinsecamente relacionada à sua comunidade. Todas as atualizações que ocorrem desde 2009 são orientadas ao aumento do benefício da comunidade Bitcoin. E não do criador do protocolo. E quanto o lucro e o interesse de um grupo pequeno de usuários tentou fazer mais alto, os mineradores pró-aumento do bloco perderam a guerra.


Quando os benefícios são repartidos para sua comunidade, o design do projeto estará organicamente alinhado aos seus benefícios. E não apenas cripto está catapultando essa tendência. Em nove anos, a Codecademy teve 50 milhões de pessoas fazendo um de seus cursos. E grande parte desse sucesso diz respeito à capacidade da empresa de articular sua comunidade e transformar seus alunos mais experientes em professores para os novatos.


7 Benefícios do design orientado à comunidades


O design orientado à comunidade traz dezenas de benefícios as marcas, tais como:


  1. Membros engajados convidam membros, diminuindo o custo de aquisição de clientes (CAC). Inúmeros estudos mostram que a indicação de amigos é um dos principais motivos para alguém entrar em uma criptomoeda.

  2. Esforços de atendimento ao cliente são menos necessários em projetos baseados em comunidade porque os membros sempre ajudam outros membros.

  3. Moat: competidores podem realizar engenharia reversa, copiar soluções e forkar códigos, mas elas nunca poderão copiar outras comunidades e isso é uma vantagem competitiva única.

  4. Taxa de Retenção (sticky factor): comunidades fortes criam investidores apaixonados unidos por afinidade e conexão. Quanto mais forte essa conexão, maior a retenção do usuário. Aqui é quando a sua comunidade se torna a comunidade dele.

  5. ​​LTV (lifetime value): o valor que um cliente retorna ao longo do tempo tende a ser orgânico e crescente.

  6. Word of Mouth: engajamento, feedback, suporte aos usuários e criação de conteúdo gratuito perfeitamente direcionada. Comunidades provêem recursos humanos quase ilimitados.

  7. Product Market Fit: o CMV prove feedbacks para criação de um produto que se encaixe perfeitamente nas necessidades de seus usuários.


A comunidade mínima viável permite melhorar /criar produtos com feedbacks que dizem exatamente o que seus usuários desejam, amam ou odeiam. Através do fortalecimento dessa relação e da co-criação, você terá flexibilidade e liberdade para experimentar novas coisas, menos riscos envolvidos, conteúdo gerado por sua comunidade, suporte aos novos membros e uma vantagem em relação aos seus competidores.



Elementos chaves para criação de uma comunidade

''De pessoas a pinguins, de macacos a suricatos, a grande maioria dos organismos exibe alguma forma de agrupamento coletivo. Não é apenas um grupo que gera a comunidade, mas as interações dentro dele.

Essas interações e o sentimento de pertencimento que elas produzem são gerados a partir de um tipo distinto de economia: uma economia social.''

- Jono Bacon

Construção


1.1 Ethos: missão e valores compartilhados


Todo mundo tem sonhos. Todos nós temos ambições e experiências que desejamos, e todos somos culpados de usar a oportunidade de um dia chuvoso para olhar pela janela e deixar nossas mentes nos levarem para essas grandes visões, sejam elas voando para o espaço, ganhando milhões de dólares , ou tocando baixo na frente de milhares de pessoas.-Jono Bacon



Comunidades são formadas por conexões, que são a combinação de crenças, dilemas, valores e principalmente de uma missão em comum. Diferente do que acredita o senso comum, conexões e identidades são definidas mais por conflitos e dilemas do que por concordâncias, por isso que a missão é o combustível primário de uma comunidade.


A comunidade Bitcoin se formou em torno da ideia de um sistema alternativo ao sistema financeiro tradicional, contra a forma como bancos e governos operam. É a primeira coisa que lemos no whitepaper. Não importa quem sejamos, importa que juntos e em colaboração, podemos criar uma alternativa. Sempre que perguntamos ''por quê?'' Por que eles gastam dinheiro para manter um software um serviço disponível a todos? Por que traduzir centenas de artigos de graça? A resposta sempre será: pertencimento é a medida de uma economia social forte e o que mantém as pessoas juntas e é o objetivo da construção das comunidades.


Pertencimento nasce de conexões genuínas, gera responsabilidade e motiva ação individual em torno do progresso da missão em comum. E esse é nosso objetivo na hora de criar uma comunidade. Isso envolve um profundo entendimento da identidade da comunidade, seu propósito e os problemas que sua persona quer solucionar. Quando as pessoas sentem que elas podem alcançar um sonho com grandes e belos benefícios coletivos e individuais, elas se tornam extremamente comprometidas. E diferentes sonhos podem se somar e potencializar a missão em comum.


Tip: Inicie o seu projeto publicando sua ideia em um fórum especializado como o Bitcointalk. Fóruns tendem a ter grupos coesos com grande conhecimento em assuntos específicos e disponibilidade para ajuda. Eles permitem um armazenamento organizado de diferentes conversas ao mesmo tempo por longos períodos e o armazenamento do histórico de conversa permanece guardando, permitindo o onboarding de novos participantes a qualquer momento.



1.2 Histórias

''Nós (empreendedores) somos todos impostores que devem implantar uma ficção (ou seja, uma história)

que capture a imaginação e o capital para impulsionar o futuro e transformar a rima em razão.''


''Uma visão que não é amplamente ridicularizada provavelmente não é exatamente uma visão.''


''Contos de fadas são mais que verdade; não porque nos dizem que dragões existem,

mas porque eles nos dizem que dragões podem ser derrotados.''

-Neil Gaiman



Criar um projeto na web3 é como criar uma ficção que você trabalhará duro para se tornar real. É através das histórias que as comunidades se mantem fluindo. Um caso brilhante é do LOSTPOETS, que conseguiu arrecadar 28k ETH com literalmente - paginas em branco, uma narrativa brilhante e um CEO minimalista inspirador.


Através das histórias, inspiramos as pessoas a buscar a mesma missão, ensinarmos e criamos uma forma através dos quais elas se orgulhem de estar em grupos. Um exemplo absurdo eu ouvi durante a faculdade de Antropologia, com uma doutora que estudava '' assaltos à grandes instituições financeiras''. Ela contou que nas festas das filhas dos assaltantes, elas brigavam, orgulhosos de quem saiu no relato etnográfico da pesquisadora e quem não. As histórias podem ser divididas em duas categorias:

  • Contos: unidades de experiência, cujo objetivo é ensinar e ilustrar algo ao ouvinte.

  • Fábulas: ilustrações fantasiosas e talvez absurdas para exaltar uma mensagem subjacente.

Ambas as histórias são maneiras extremamente eficazes de gerar inspiração e ensinar teoria de forma eficiente. Empreender significa literalmente acreditar em algo que não existe, mas que você está disposto a fazer existir. E por isso, as histórias são tão poderosas. Mas todas as histórias tem riscos. Tenha cuidado e respeito com elas.



1.3 Persona & Líderes

Líderes têm papéis importantíssimos na criação de uma comunidade. Pessoal gostam de ver pessoas e a conexão é muito mais fácil com um líder do que com um projeto sem rosto. No caso da comunidade, líderes são ainda mais importantes devido à confiança necessária nesses projetos. Ter um líder ativo e carismático será de grande ajuda para criação de conexão e identidade. Mas, caso o seu CEO, CTO ou investidor não seja naturalmente essa pessoa, não tente forçá-lo a sê-lo o que ele não é. Infelizmente, eu já trabalhei com dezenas de ''líderes'' com nenhum tato social ou de comunicação. Mas nenhum prompter, curso de oratória ou roteiro faz mágica. E eu não quero dizer que as skills não podem ser melhoradas, elas sempre podem. Mas elas não devem ser falseadas. Se você e sua comunidade têm a mesma missão, sua perspectiva, visão e ambição não devem ser escondidas, apenas polidas.


1.4 Exclusividade & Pertencimento

Parte do prazer de estar em uma comunidade diz respeito ao sentimento de exclusividade associado a ''fazer parte do club''. O sentimento de exclusividade pode ser criado por restrição de capital - como o caso dos Bored Ape-, através de um sistema de mérito e reputação - como o do Bitcointalk- em que membros precisam ter ganho um número de merits para manter mensagens com frequência ou com entrada exclusiva por convite de outros membros, como o Rarible.


1.5 Manifestos, Rituais e Tradições

Escreva um manifesto como do HashMask para que as pessoas possam se apaixonar pelo seu diferencial e tragam novos amigos. Crie um onboarding com um ritual para novos membros, dê gradualmente acesso aos seus usuários a medida que ele responde questões diárias. Há opções ilimitadas em termos de ritual, a questão aqui é fornecer uma entrada surpreendente, que já faça com que ele se sinta parte de algo exclusivo e único e no qual ele desempenha um papel ativo.

2. Engajamento 🧗


''Construir uma comunidade é um negócio complexo. Envolve um planejamento cuidadoso e consideração, mas também a liberdade de capacitar os membros de sua comunidade para realizar coisas que você nunca sonhou.''


A web3 é a internet do engajamento, onde usuários não apenas consomem, mas ativamente criam valor e conteúdo. Uma comunidade é mais do que os indivíduos que compram um produto. Ela é aqueles que falam, participam e desempenham qualquer papel ativo na construção e reconhecimento de uma marca. Isso é um comportamento orgânico dos usuários na web3. Mas, as marcas devem incentivar esse comportamento, criando canais e provendo ferramentas para o engajamento de seus usuários. Após definir os princípios e missão da sua comunidade, precisamos estruturar a forma através da qual o Proof-of-Brain, a inteligência coletiva e a diversidade cognitiva da sua comunidade será incentivado e aproveitado: estratégias de engajamento e conteúdo, guia de comunidade, definição e roles e super fã e mais.

Canais de Interação

Há diversos canais através das quais o engajamento pode ocorrer, conheça sua comunidade, defina o que você quer dela e defina os canais para engajamento orgânico, da marca com a comunidade, da comunidade com a marca e entre os usuários da sua comunidade. Deixe que os usuários descubram novos produtos/features competitivas, deem sua opinião sobre a marca e o setor e conversem. Não estabeleça apenas canais horizontais de conversa com sua comunidade, mas em todas as direções.

  • Marca - > comunidade: newsletter, calls semanais, post de blogs, Discord (anúncios oficiais)

  • Comunidade <-> marca: Discord (feedback, sugestões, ideias, ajuda) Telegram, AMAs, sessões de mentoria, eventos

  • Comunidade <-> Comunidade: Telegram, Discord (general, canais locais)



Regras & Limites

Determine quais conteúdos fazem parte do escopo de interesse da sua comunidade e incentive sua produção. Tenha claro quais conteúdos devem estar fora do seu espaço e seja impiedoso com essa curadoria, é aqui que o valor vai surgir. Isso fará do seu espaço um lugar onde os usuários querem estar e no qual o tempo de todos é valorizado. Ambientes tóxicos atraem usuários tóxicos e sua comunidade é reflexo do seu produto. Os membros mais ativos irão modelar o comportamento da sua comunidade, então direcione as conversas com boa conduta e conteúdos valiosos para incentivar a boa participação.

Nota sobre moderação: algumas redes tendem mais facilmente a toxicidade/futilidade do que outras. E a comunidade cripto é naturalmente falante e participativa. Em alguns casos, vale a pena criar um grupo off-topic ou fechar o canal. Não tenha medo de ações drásticas, mas bem pensadas. Uma boa curadoria é um dos grandes valores de uma comunidade. Usuários banidos podem se revoltar, criar novos grupos e xingar no Twitter, isso é extremamente comum.


Tarefas 👾

Revisão de códigos, criação de memes, tradução, criação de conteúdo, feedback sobre produtos ainda não lançados, incentivo a comportamento centrado na comunidade (orientação, liderança e crescimento) e desenvolvimento de novas soluções. Gere oportunidades de contribuições. Precisa de um nome? Pergunte a sua comunidade. De hard a soft skills, crie um lugar em que todos possam participar e organize claramente as atividades que novos usuários podem criar. Qualquer lançamento e projeto deve vir com as diretrizes relacionadas às tarefas que a comunidade pode pegar para si.


Casos de estudo:

  • Profissões, Guildas e DAOS internas: O Start Atlas é inteiramente desenhado para incentivar a criação de comunidades, com profissões, funções, recompensas pré-definidas e estruturas de governança para criação de micro DAO territoriais. Apesar de todas críticas em relação ao jogo (que eu concordo), o Star Atlas continua sendo um caso fantástico de como criar estruturas que suportem e incentivem a criação de comunidades.

  • Estrutura de Tradução coletiva: Ethereum .

  • Criação junto a comunidade: Loot.

Títulos, Times & Unidades de Pertencimento

O reconhecimento e a distinção são ferramentas extremamente eficazes para a retenção e engajamento dos usuários e para estruturação efetiva e produtiva da sua comunidade. Identifique as tarefas, crie equipes para sua execução e defina o escopo (amplitude e o alcance) de cada equipe. As equipes são unidades de pertencimento. Em qualquer agrupamento humano, a familiaridade abrirá portas e através de skills compartilhadas, esse fluxo será natural.


Segmente sua comunidade em subgrupos formados por interesses e skils específicas que serão usados para a missão em comum. Mas não seja extremamente rígido com essa segmentação, usuários com skills cruzadas são essencial para a comunicação entre os subgrupos e a coesão da comunidade como um todo. Atente-se às capacitações e a diversificação da sua comunidade. Como dissemos, uma comunidade é formada não por similaridades, mas por missão compartilhada. Comunidades fortes precisam ter um grande range de diversidades de skills, culturas, perspectivas, atitudes, experiências e sonhos.



Tarefas:

  • Defina nomeações e papéis para membros da comunidade. Dê algo para que os usuários se orgulhem, algo que incentive sua permanência dentro da comunidade e que ajude novos usuários a navegar pela sua comunidade através de mentoria, histórias e experiências.

  • Crie um canal de Introduções para que os membros possam se conhecer facilmente. Esse canal é essencial para que novos membros encontrem sua ''turma'' ao contarem sobre suas histórias, habilidades, ambições e objetivos junto a comunidade.

  • Nomeie os membros de acordo com o crescimento da comunidade, fornecendo título e recompensas para quem entrou/ quando a comunidade atingir 1k, 10k, 20k (ref de sucesso: Fractal)



Incentivos e Recompensas

Gameficar a experiência da sua comunidade com incentivos imediatos de gratificação pela participação e realização de tarefas é uma ótima ideia. Mas isso não se trata exclusivamente de dinheiro. E muitas vezes, cashback, tokens e giveway é a pior forma de criar comunidades. Incentivar usuários já pertencentes com incentivos econômicos pode ser uma ótima ideia, mas trazer membros dessa forma, talvez não tanto.


Mas de recompensas monetárias à status, reconhecimento público, acesso exclusivo ou camisetas, a questão é reconhecer a contribuição dos usuários. Contribuir com uma comunidade é como qualquer troca econômica, o colaborador oferece algo que valoriza menos (o que se traduz como o seu tempo resolvendo uma necessidade específica) por algo que valoriza mais (qualquer coisa que o pertencimento a comunidade tenha a oferecer, de tokens a confiança, companheirismo e influência ou mesmo estímulos hormonais ao ato de caridade). Ninguém está trabalhando realmente trabalhando de graça, mesmo que não haja dinheiro envolvido na troca.


À parte todas as discussões polêmicas, a meritocracia colaborativa das comunidades digitais é um sistema em que dinheiro, classe e conexões tem pouca influência. O reconhecimento do mérito e sua subsequente recompensa diz respeito unicamente à colaborações e talento para tarefas específicas, visto que muitas vezes nem mesmo a identidade dos membros são conhecidas, o sistema de títulos e recompensas é uma forma de nivelar indivíduos, permitindo que compromisso e trabalho sejam recompensados de forma justa. Dificilmente alguém pode argumentar que um indivíduo que trabalhe mais deva ganhar igual a um que não se dedica em nada.



3. Sustentabilidade 🌱


Missão definida, engajamento na velocidade da luz. Agora é hora de tornar o sprint uma maratona e não deixar que os marinheiros morram na praia. Esse é normalmente o momento do dump e o ponto de falha de muitas comunidades cripto.



3.1 TOP Contribuintes & Moderação

Crie um programa para o desenvolvimento de gestores e líderes da comunidades. Incentive e recompense seu engajamento e aumente sua responsabilidade. Os seus early adopters terão um papel fundamental no crescimento da sua empresa. À medida que você escala no modelo baseado em comunidade, em poucos meses você terá milhares de usuários enviando dezenas de mensagens diariamente. Se tudo der certo, será impossível acompanhar a conversa. Os early adopter serão essenciais. Não tenha medo de abrir o jogo (lembre-se que sua comunidade é um diferencial do negócio) e envolvê-los na direção do seu projeto. Explique como tudo funciona, abra seu beta, deixe que eles testem seus protótipos e instalem seus softwares. Os primeiros e mais engajados usuários te ajudaram no crescimento e na sustentabilidade da sua comunidade e na curadoria da comunidade para manter a discussão de qualidade.

3.2 Alianças, Organizações e Parcerias ⛓️

Faça parte de alianças e outras organizações com objetivos similares ao seu. A participação em missões semelhantes a sua te proporcionará networking, ferramentas, possíveis contribuintes e inspiração para criação da sua comunidade. O objetivo das comunidades é a conexão e começar esse esforço ampliando suas próprias conexões é uma forma efetiva de expandir sua comunidade. Contribua com outra aliança e projeto. Essa é uma lição para vida, dê a comunidades que isso sempre vai retornar para você/para sua.

3.3 Desafios 🤠

Desafios são ótimas formas de manter o engajamento e crescimento da sua comunidade. Estruture um desafio que envolva diferentes skills, objetivos de curto e médio prazo e uma estrutura clara de recompensas coletivas e individuais para as contribuições dos usuários.


3.1 Governança 🧐

Crie um guia objetivo sobre como funciona a governança do seu projeto e como os membros podem ativamente reestruturar e melhorar as dinâmicas do seu produto. Dê a eles o poder e a responsabilidade de governar. Iniciar/migrar determinadas estruturas para uma DAO é uma ótima maneira de expandir sua governança.

Referência: Yearn Finance.



To-do List para iniciar sua Comunidade Mínima Viável ✔️

[ ] Whitepaper

  • Feedback de um pequeno grupo inicial [ ]

  • Publicação em fóruns especializados [ ]

[ ] História & Narrativa

  • Manifesto [ ]

[ ] Identidade visual

[ ] Missão & Tarefas/Desafios Iniciais (em que você precisa de ajuda?)

[ ] Plataforma para iniciar sua comunidade, canais iniciais e descrição

[ ] Rituais de entrada & Roles (meritocracia colaborativa)

[ ] Crie uma hashtag que represente a missão compartilhada da sua comunidade e associa essa # a sua marca.

[ ] Compartilhe em produção: faça do seu dia-a-dia um conteúdo compartilhável, obtenha confiança, estabeleça seu nome de como referência ajudar empreendedores/usuários com desafios semelhantes.

[ ] Aulas públicas & Sessões exclusivas para comunidade

[ ] Primeiro MEME

[ ] Primeiro AMA interno e com influencers para que a comunidade tire dúvidas em tempo real

[ ] Distribuição Inicial de Recompensa para Pertencimento

[ ] Identificação do seu primeiro TOP FÃ/Contribuidor




Riscos, Desafios & Conselhos ☠️

Além de ser mestre em antropologia, durante os últimos cinco anos eu estive diretamente envolvida com a criação e gestão de comunidades cripto e vi tanto comunidades nascerem do zero como morrerem ao iniciarem suas mortes aos 60 mil usuários. Eis os ricos e desafios das comunidades.



1. Centralização

(para líderes de projetos, community managers & usuários)


O uso do conceito descentralização pode ser um truque. A descentralização funciona através de camadas e não de uma vertical binária. Devido a tais camadas, é extremamente difícil dizer que um projeto é mais ou menos centralizado que outro. Cada algoritmo de conselho terá uma graduação de descentralização interna, prós e contras. Uma estrutura aberta de governança não impede que tenhamos apenas poucos desenvolvedores participando dela e centralizando as decisões. O Bitcoin pode ser descentralizado em termos de hashrate, mas ele continua sendo extremamente descentralizado em termos de quem detém os Bitcoin. 2% das carteiras de Bitcoin detém 95% dos Bitcoins em circulação. Nesses 2% , há exchanges, fundos e empresas que detém Bitcoins de multidões. Quão centralizado isso é? Todos os cripto bilionários do mundo são homens brancos. Muitas mulheres estão conseguindo independência financeira com cripto, eu sou uma delas. A web3 deve ser versão descentralizada da internet, o cyberspace desenhado por usuários e para os usuários. É responsabilidade de todos dirigir a descentralização e assegurar que os protocolos sejam desenhados para maximizar o benefício de sua comunidade.

2. Regras & Hierarquias

(para líderes de projetos e community managers)


Não importa quão descentralizado seja cada micro-estrutura dentro de um projeto, sempre haverá regras, consensos e pessoas com mais ou menos influência/poder dentro de uma comunidade. Isso é inato à organização humana. E mesmo sociedades construídas contra o Estado tem diferentes sistemas de distinção de influência política. Anarquismo e polis convivem perfeitamente e o anarquismo não supõe a ausência de regras, mas ausência de coerção. O Bitcoin não tem dono, mas tem regras claras e imutáveis.


À medida que uma comunidade cresce, novas regras precisaram ser criadas para direcionar o caos das comunidades e manter o ambiente valioso aos usuários. Nesse momento, muitas vezes as coisas dão errado. Acostumados com a ideia - não fundamentada- de descentralização, as comunidades podem se revoltar à adição de novas regras, guias e diretrizes. Eu já acompanhei casos em que usuários chegaram a criar um ''contra-guias'' e ''manuais de não-regras''.


Minha dica aqui é: avise antecipadamente sobre a necessidade de regras, peça o feedback da comunidade sobre as novas regras, avise-a os problemas que alguns usuários/ gestores veem que desencadearam a ideia de novas regras. Faça tudo isso antes de chegar com uma sugestão inicial, permitindo feedbacks em todo o processo. Nem todo mundo ficará feliz sempre, mas moderar, banir e regular comunidades é tão parte do processo de criar uma comunidade quanto às estruturar para incentivar sua participação.



3. Competição 🙅‍♀️

(para líderes de projetos )

Antes mesmo de lançar o seu projeto, disponibilize um documento aberto para feedbacks, ideias e críticas em fóruns especializados. Esteja desde o dia zero ouvindo sua comunidade. Não deixe de aproveitar o potencial da construção comunitária por medo de que alguém a roube. Citando Chris Anderson, ''A possibilidade de outros clonarem os produtos está embutida no modelo open-source. Idealmente as pessoas podem mudar e melhorar produtos ''design derivativo'' para adequá-los a seus interesses.'' Competição é algo bom e cria inovação. Bitcoin, Ethereum, Cardano, EOS e muitos outros projetos nasceram da mesma fórmula: um criador compartilhando em um fórum sua ideia e debatendo regularmente sua ideia com sua comunidade. Seja grata e tenha respeito pelos seus competidores. A seed dele é a sua porta aberta com outro VC.


4. Confiança ⚖️

(para líderes de projetos e community managers)


Como em qualquer relação, confiança é a base da criação de uma comunidade, ela é uma função importante das comunidades e ela deve ser cuidadosamente elaborada. Se ela deixar de funcionar, é como um bug no seu software ou um furo no seu modelo de negócio.


Se você se propor a criar junto a sua comunidade, não cometa o erro de achar que você pode enganá-la. Isso significa transparência por design. Criar projetos na web3 envolve tecnologias extremamente inovadoras, desconhecidas e poderosas. Haverá muitas complicações, controvérsias e polêmicas. Falsear a realidade sempre é o caminho mais difícil. Compartilhar uma missão compartilhada significa compartilhar dores e problemas. As comunidades estão abertas a dores compartilhadas, mas são muito menos simpáticas à mentiras compartilhadas.


Tenha respeito pela sua comunidade, seja sensível, aberto, acessível, assertivo e acima de tudo, um ótimo ouvinte. Comunique seu posicionamento sobre as controvérsias e deixe um canal aberto para que sua comunidade se expresse sobre os dilemas enfrentados. À medida que sua comunidade é desenvolvida com essas características, sua comunidade confiará em seus líderes, moderadores e gestores.


5. Patrocínio 🤑

(para líderes de projetos e community managers)

Um ponto comum de início de conflito diz respeito aos patrocínios, financiamento e incentivos financeiros das comunidades. Manter uma comunidade significa trabalho, gastar tempo e dinheiro e ter uma fonte valiosa de monetização. Entretanto, não é incomum que sua comunidade seja contra seu patrocinador, por infinitas razões. Monetizar comunidades é um aspecto complexo. Seja transparente sobre os custos, desafios e possibilidades de cada patrocínio. Todo mundo entende que todos precisam ganhar dinheiro, mas vender a alma não é para todos.



6. 🐘 Efeito Manada 🐘

(para usuários e influencers)


''A linha entre visão e fraude só é traçada em retrospectiva. Estabelecemos prazos arbitrários para os empreendedores entregarem sua visão, e sua visão só se torna fraude quando dizemos que o tempo acabou.''

- Scott Galloway


Apesar dos benefícios inegáveis das comunidades, há grandes riscos envolvidos em projetos baseados em comunidades. E sabemos que as comunidades online não são flores que se cheire. Um exemplo do perigo relacionado às comunidades é a IA Tay, criada pela Microsoft para aprender e reproduzir o conteúdo dos usuários do Twitter. Em menos de 24 horas, a Tay se tornou nazista, ninfomaníaca e preconceituosa, destilando fúria, raiva e ironia na sua conta do Twitter.


Como bem sabemos, de sapiens, o homo tem menos do que do que gostaríamos de admitir e muitas vezes, ele é completamente arrebatado pelo efeito manada. Por isso, cada vez mais, o projeto tem usado da ''fórmula do influencer'' para criar comunidades que crescem absurdamente do dia para a noite, mas não necessariamente tem tanta entrega quanto seus influencers contratados.


Por isso, o tamanho de uma comunidade não deve ser visto como uma métrica isolada. As comunidades são ferramentas preciosas que devem ser trabalhadas para extrair o melhor de cada produto e de cada pessoa. Mas tome cuidado ao ''entrar só porque todos entraram'', porque talvez você já seja um dos últimos a entrar e o primeiro a se ferrar. Veja as comunidades como ferramentas, para se orientar (seja usuário ou desenvolvedores) e como métricas para entrar em projetos loucos e sem pé ou cabeça.


Conclusão 🧠

Comunidades permitem o florescimento das marcas e maximizam seus resultados. Como a criação de um produto, a construção de uma comunidade envolve metodologias e estratégias robustas. Descontos, airdrops e a queima de dinheiro não são suficientes para criar uma comunidade resistente à maratona, no máximo, elas vão resistir ao sprint. Comunidades são formadas por missões compartilhadas e pertencimento. E quando bem trabalhados, são uma vantagem competitiva irreplicável.


A construção de uma comunidade é uma função de negócios. Uma das mais importantes. Entretanto, apesar de haver pilares fundamentais na criação, engajamento e sustentação de uma comunidade, não é possível simplesmente seguir a receita e ter o bolo pronto. A adição de cada ingrediente requererá um toque único, uma personalidade única que significa infinitas possibilidades. Experimentar novas ideias e conceitos, com respeito a sua comunidade é a única forma de aprender com os acertos e erros. O guia te guiará pelas estradas tortuosas e prazerosas de uma comunidade, mas só você pode fazer essa caminhada.












Comentários


''Todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis".
George Box
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