Este artigo fornece uma visão geral do funcionamento e operação das Moedas Digitais de Banco Central. Abordamos a definição do novo ativo, os modelos existentes, as vantagens e desvantagens da CBDC e as possíveis implicações para política monetária dos países adotantes.
O Surgimento das Moedas Digitais de Banco Central
O conceito de moeda digital surgiu em 1983, quando o cypherpunk David Chaum desenvolveu o Ecash, o primeiro sistema de dinheiro eletrônico criptográfico. Após quase quatro décadas de micro invasões do dinheiro digital na nossa economia e do Bitcoin abrindo de vez esse caminho, as moedas digitais estão agora desferindo o golpe final, digitalizando o próprio aparatos econômico estatal.
Vale lembrar que criptomoedas como o Bitcoin e iniciativas DeFi estão se tornando capaz vez mais populares entre os investidores tradicionais. Em economias como Argentina e Venezuela, onde há a implosão da instabilidade do ente coercitivo, as moedas digitais são uma alternativa à hiperinflação da moeda fiduciária. Mas as criptomoedas continuam sendo um club que não chega à um quatro de trilhão. A implementação de uma CBDC é um marco nessa história porque uma moeda fiduciária digital, soberana e regulada pela autoridade monetária de um país significa transformar o dinheiro digital em regra e não exceção.
Depois que a Coréia do Sul colocou em quarentena seu dinheiro para desinfetá-lo , a China imprimir 4 bilhões de yuans (cerca de US$ 572 milhões) e a ONU recomendar o uso de carteiras digitais como questão de saúde pública, todos viram que o papel moeda é incapaz de responder as demandas de uma economia moderna. E as Moedas Digitais emergiram como candidatas óbvias.
Mas o que define uma Moeda Digital de Banco Central?
É importante saber que há variação nas definições taxonômicas quanto as moedas digitais fiduciárias, já que elas pode variar em relação à sua, tecnologia escolhida, mecanismo de transferência, disponibilidade, privacidade e etc. Mas há algumas características básicas comuns a todos os modelos propostos. A CBDC precisa :
(i) ser emitida por um Banco Central
(ii) ser usada como forma de pagamento, reserva de valor e unidade de conta
(iii) ser universalmente acessível e ter validade legal para todas as transações públicas e privadas no território daquela moeda
(iv) compartilhar o mesmo valor subjacente que todas as outras formas de dinheiro emitido pelo governo e, portanto, ter garantia de conversibilidade em dinheiro e / ou reservas.
As principais oportunidades da CBDCs
Diminuir os custos com a produção do dinheiro
Às vezes, perdemos de vista isso, mas fazer dinheiro custa dinheiro. No Brasil, os custos operacionais anuais de emitir, custodiar e distribuir dinheiro é de aproximadamente R$ 90 bilhões e é financiado por fundos públicos. O número é bem absurdo, mas a fonte é o próprio Banco Central.
Melhora na eficiência da inovação do sistema bancário geral
A CBDC tem potencial para resolver os desafios relacionados à infraestrutura dos sistemas legados, aumentando a agilidade das respostas governamentais às mudanças do cenário político e econômico.
Transferências entre fronteiras
O sistema de transferência institucional atual é uma grande M$%4. A diminuição dos custos e tempo de espera do usuário final será um benefício evidente. Modelos inovadores de transferência entre fronteiras P2P, como o da Transferwise já possibilitam queda nos custos, mas eles sofrem com limbos regulatórios complicados. Modelos como o da Ripple, apesar do hype e de bancos associados, também não são operacionalizados da forma propagandeada. No Brasil, a Ripple só pode funcionar como mensageria e as instituições não são autorizadas a comprar XRP para desfrutar da infraestrutura de forma integral. A questão é, dessa forma, regulatória e não técnica, o que poderia se beneficiar das CBDCs.
Rastreabilidade
Em breve, passaremos por uma inversão. O papel moeda será considerado uma ferramenta para atividades ilegais e as moedas digitais - pelo menos as CDBC- serão as únicas legítimas aos olhos do estado. Isso vai acontecer porque a natureza física do papel moeda torna sua rastreabilidade impossível. Uma moeda digital fiduciária pode guardar todas as informações sobre os valores transacionados e os envolvidos na negociação, criando um complexo histórico transacional. Essa rastreabilidade pode resultar em diminuição de atividades ilícitas, tais como lavagem de dinheiro e evasão fiscal.
Aumento da confiança pública na poupança, com menores riscos do que armazenar em bancos comerciais. E como resultado, isso desafiaria o poder de barganha dos bancos, que precisariam oferecer melhores serviços financeiros aos depositantes, se quiserem continuar existindo.
Os principais desafios da CBDCs
Riscos Cibernéticos e Resiliência do Sistema
A implementação de um CBDC requer investimentos pesados em segurança. Comparado ao dinheiro físico, os riscos de falsificação, roubo ou qualquer comprometimento do sistema podem ter conseqüências mais catastróficas, causando interrupções substanciais e corrupção geral do sistema. Considerando que estamos falando da implementação de uma tecnologia nascente, que foi pouco testada nessa escala, provavelmente careceremos de talento técnico e experiente com a implementação dessa tecnologia.
Exclusão financeira
Pode vir a aumentar se o banco central emissor não tomar cuidado especial para garantir que o CBDC seja amplamente acessível no país. A sua implementação pode agravar a fragilidade da situação dos imigrantes e acentuar sua marginalização
Instabilidade Financeira
Uma CBDC pode ter como resultado um novo comportamento econômico, mais volátil e ativo. Como as trocas, transferências e gastos se tornariam fáceis e a drástica às oscilações de sentimentos decorrentes da preocupados com o futuro de uma instituição financeira ou com mudanças do mercado. Assim, a CBDC e a digitalização da economia podem agravar pânicos sistêmicos, facilitar crises financeiras, induzir mudanças dramáticas no balanço do setor bancário e comprometer a estabilidade financeira.
Privacidade
A emissão de um CBDC de propósito geral levanta vários desafios para o banco central emissor, como o cumprimento de requisitos de financiamento contra lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, bem como grau adequado de privacidade dos usuários. O trade off entre rastreabilidade para coibir ilegalidades e proteções rígidas de armazenamento de dados do usuário, é um grande desafio.
Diminuição do Controle Monetário
Os Bancos Centrais precisam atender às necessidade de uma sociedade digital, mas A criação de uma CBDC pode ter como efeito, o aumento do interesse por moedas digitais alternativas, abrindo portas para idéias de dinheiro soberano global. Se isso acontecer, haverá um sério comprometimento do controle monetário governamental e sua capacidade de implementar a política monetária. As consequências desse cenário são imprevisíveis.
A cultura devora a estratégia no café da manhã
A motivação, o desenvolvimento e as consequência de uma CBDC variaram de acordo com seu país de implementação. Na Europa, a eficiência dos pagamentos transfronteiriços parece ser a principal força que impulsiona uma evolução natural da digitalização da economia.
Enquanto isso, a África e outros mercados emergentes estão dirigindo a inovação a partir da necessidade da inclusão financeira. Na Ásia, a desmonetização da Índia teve como objetivo reestruturar a economia para um futuro sustentável, desenvolvendo novas estratégias para reduzir a corrupção e melhorar a arrecadação de impostos.
A necessidade de cada localidade deve ser responsável por definir o design de uma CBDC e com certeza será responsável por definir como os cidadãos vão lidar com essa implementação.
Alguns Casos Interessantes
China 🇨🇳
O dinheiro chinês tem dois nomes: o Yuan (CNY) e o renminbi do povo (RMB). Enquanto o renminbi é a moeda oficial da China e o meio de troca , o yuan é a unidade de conta do sistema econômico e financeiro do país. No início de abril, o Banco do Povo da China (BPC), anunciou sua criptomoeda soberana, a versão digital do renminbi, o e-RMB. A moeda está sendo testada apenas em algumas cidades e alguns funcionários do governo e funcionários públicos receberão seus salários na moeda digital. Uma das vantagens anunciadas da moeda em relação as carteiras AliPay e WeChat é o pagamento sem contato, sem internet e sem contas bancárias.
Estados Unidos 🇺🇸
Uma das versões do projeto de lei de estímulo econômico para combater os efeitos da pandemia de coronavírus, incluia a criação do “dólar digital”. A versão que foi assinada por Trump tinha excluído o dólar digital. Mas a ideia ganhou projetos independentes na Câmara e no Senado. Muitos criticaram a velocidade com que o atual sistema financeiro distribuiu os pagamentos únicos de US$ 1.200, bem como seu valor relativo pelo que parece ser uma dificuldade econômica de longo prazo. A defesa do dólar digital é justamente a capacidade de agilizar os pagamentos.
Moeda Internacional 🗺️
O debate fica ainda mais interessante quando falamos de uma moeda digital global. Os Estados Unidos estão sendo bombardeados de críticas sobre seu comportamento enquanto detentor da moeda de reserva global e artimanhas para enfraquecer países que não se submetem ao seus desejos.
O chefe do Banco da Inglaterra, Mark Carney, declarou que o dólar está atrapalhando a recuperação global e que a moeda deveria ser substituída por uma opção digital. Jia Jinjing, diretor do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros da Universidade Popular da China, sugeriu a criação de uma tecnologia de moeda digital para criar um sistema de liquidação internacional de acordo com as necessidades reais, que não beneficiasse nenhum país, como acontece hoje com o dólar.
A China provavelmente liderará o mundo nos próximos anos e uma moeda digital global fornece uma alternativa ao sistema de liquidação do dólar, atenuando o impacto de quaisquer sanções ou ameaças de exclusão que os EUA venha tentar.
Comments